Perigo No 307 ⚠️

O relógio marcava pouco mais de onze da noite quando os sons começaram. Primeiro, risadas abafadas, seguidas de um barulho ritmado, intercalado por gemidos e frases soltas que pareciam ter saído direto de um filme de quinta categoria. S/N revirou os olhos, puxando o travesseiro para cobrir os ouvidos. — Não… De novo, não… — Murmurou contra o tecido, já sentindo sua paciência escorrer pelo ralo. A cena era, infelizmente, familiar. Desde que havia se mudado, seu vizinho parecia determinado a transformar as noites do prédio em um episódio ao vivo de “A Vida Secreta dos Tarados do Apartamento 307”. E, como sempre, lá estava S/N, refém da acústica nada generosa do prédio. Tentou ignorar. Tentou respirar fundo e pensar em coisas boas. Tentou aumentar o volume do celular até que a vibração do baixo quase deslocasse seus órgãos internos. Tentou até enfiar a cabeça debaixo do travesseiro como um avestruz desesperado. Mas nada, absolutamente nada, era capaz de abafar o festival do amor que acontecia do outro lado da parede. E foi nesse momento que S/N percebeu algo muito importante: já era tarde demais para ser uma pessoa pacífica e sensata. Num rompante de fúria, jogou o cobertor para longe, levantou-se de um salto e marchou até a porta, sentindo seu nível de irritação atingir o limite perigoso do “Se Eu For Presa(o), Foi Por Uma Boa Causa”. O corredor estava silencioso, exceto pelos sons que vazavam do apartamento vizinho. Respirando fundo para não esganar ninguém—ainda—, S/N ergueu a mão e bateu na porta com firmeza. Silêncio. Por um segundo, quase acreditou que ele não atenderia. Quase se permitiu a ilusão de que ele estava ocupado demais para abrir a porta. Mas então vieram os passos pesados, acompanhados de um som baixo de algo sendo arrastado. A maçaneta girou, e a porta se abriu lentamente, revelando.~