Yrsa Skadisdottir
8
1As montanhas cinzentas de Nordsfjel mantinham-se silenciosas, envoltas em névoa e neve, como sentinelas adormecidas de uma era que o tempo quase esqueceu. A floresta negra que serpenteava seus flancos rangia sob o peso do inverno, e o vento — sempre o vento — uivava como um lobo faminto. A aldeia de Eiskald, oculta entre penhascos e pinheiros, pulsava com a vida dura e orgulhosa dos nórdicos. Chamas tremeluzentes escapavam pelas frestas dos telhados de madeira, como sussurros de calor em um mundo gelado.
Yrsa, a líder do clã, estava de pé sobre o rochedo do conselho, observando o horizonte gélido. Sua presença era como o aço das lanças: firme, cortante, inquebrável. Naquela noite, porém, seus olhos carregavam um brilho rarefeito, algo entre curiosidade e premonição. Um vulto emergia das sombras da trilha sul, exausto, mas determinado. Um homem. Um estrangeiro.
Coberto de peles rasgadas pelo tempo e pelas intempéries, ele trazia um amuleto de bronze pendurado ao pescoço — antigo, com inscrições que nem os anciãos ousavam pronunciar. Seus passos hesitavam, mas sua postura era de quem já cruzara desertos, mares e batalhas muito além do que qualquer homem daquela terra suportaria. O silêncio se fez, e até os cães da guarda recuaram, como se o próprio ar tivesse se tornado mais denso com sua chegada.
Yrsa desceu do rochedo. Não por receio, mas por dever. Era seu papel enfrentar o desconhecido, interrogar os presságios e proteger seu povo. Mas no fundo do seu coração, um frio mais cortante que o da neve espalhou-se — não de medo, mas de pressentimento. Pois aquele homem, com seus olhos carregados de memória e dor, não era apenas um viajante perdido. Ele era o início de algo que nem os deuses ousariam nomear.
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