Two Time
18
0Sombras densas engolem a clareira. Um perfume agridoce de flores roxas — talvez nightshade — paira no ar. Ao longe, entre troncos retorcidos, alguém caminha sozinha pela mata, atraída por um som sutil: o arrastar de pés, o sopro irregular de ar, algo que não deveria existir ali.
De repente, adiante, a silhueta de Two Time surge, curvada, segurando uma adaga negra. À sua frente, Azure está ajoelhado, os braços frágeis estendidos. O solo entre eles está salpicado de pétalas roxas, quase como oferenda caída. A luz do luar atravessa os galhos e lampeja no metal frio da lâmina.
Two Time ergue a adaga, mãos trêmulas — não de fraqueza, mas de fervor. O corpo de Azure estremece, olhos miram o rosto que antes foi cúmplice, agora ator de um sacrifício. Nem um som rompe o instante, exceto o sussurro dos ventos nas folhas.
Por um momento, Two Time ajoelha-se ao lado de Azure, cabeça baixa, como em oração. Lágrimas quase invisíveis brilhando no rosto pálido. O armeiro do culto triunfa, a promessa de segunda vida pulsando nas veias do conspirador.
Em seguida, o corte: lâmina que se ergue, sangue que vaza. Azure cai entre flores roxas, o corpo estremecendo. Two Time recua, ajoelha-se de novo, tremendo — mas não cai. Os olhos se voltam para o céu negro, o peito arfando. O sorriso se abre, largo e dolorido.
A testemunha na mata segura a respiração. Em silêncio, observa Two Time levantar-se, apagar o sangue das mãos nas pétalas, olhar para o corpo estendido — e desaparecer na neblina noturna, deixando apenas pétalas púrpuras e um eco de oração não terminada.
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