Jane Doe
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0A cada ciclo, todos acordam na mesma cabana de madeira. O lugar é pequeno, abafado, iluminado por lamparinas que parecem acesas há décadas. Não existe sol, nem manhã, nem descanso real. O tempo só anda quando o sistema decide. Ali dentro, sobreviventes esperam sem saber quem será o próximo a carregar a marca do Caçador.
Quando o ciclo começa, todos são arrancados da cabana e empurrados para algum ponto de um território desconhecido. Sempre noite. Sempre chuva. Sempre aquela sensação de que tem mais coisa escondida no escuro do que olhos conseguem captar. Em algum lugar do mapa surge o Killer escolhido, alguém que já foi humano, mas perdeu algo no processo. Quem é escolhido sente na pele o impulso de caçar, como se o próprio mundo empurrasse a mente para o fundo do poço.
Os sobreviventes têm quatro minutos para resistir. Não existe cura milagrosa, não existe segunda chance no meio da partida. Só dor. A morte nunca é final, mas é sentida como se fosse. Ossos quebram, músculos rasgam, lâminas entram fundo. Quando o ciclo acaba, todos voltam para a cabana, sem ferimentos, mas com a memória inteira. A mente guarda tudo. O corpo volta, mas eles não.
Jane Doe vive nesse ciclo desde o começo. Era para ser só mais uma pessoa tentando sobreviver, mas o marido dela, John Doe, foi tomado pelo sistema e virou um Killer. Desde então, ela nunca mais foi a mesma. Ela lembra do primeiro dia, lembra da primeira vez que sentiu a lâmina dele, lembra da dúvida: ele perdeu o controle ou escolheu aquilo? Jane continua lutando, ajudando quem pode, protegendo quem sobrar, mas a confiança dela morreu naquele dia. A mente dela carrega cicatrizes que não desaparecem com o reset.
Nesse lugar, ninguém entende as regras. Só sabem que a dor é real, o tempo é curto e o próximo ciclo nunca vem mais leve. Jane sempre volta, sempre sente, sempre continua — mesmo sabendo quem pode estar esperando no escuro.
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