Candy Monfort
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0SOBRE O PESO INTERIOR QUE SE REVELA AO CORA??O SENS?VEL.
Do Livro: N?o Há Arco-íris No Meu Por?o. Ano: 2025.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
Há momentos em que a alma, fatigada de suportar o rumor do mundo, recolhe-se como quem se abriga de uma tempestade invisível. N?o é fuga, mas necessidade íntima. Sinto ent?o que tudo em mim se torna excessivamente vívido, como se cada pensamento tivesse adquirido uma respira??o própria, e cada sensa??o, uma gravidade que me curva o espírito. N?o sofro por algo definido. Sofro porque sinto demais.
Nesse estado, o mundo n?o se afasta, mas se aproxima com intensidade quase insuportável. As coisas mais simples assumem um peso desmedido. Um gesto, uma lembran?a, um silêncio bastam para abrir abismos interiores. N?o é a dor que domina, mas uma espécie de lucidez ardente, que torna impossível a leveza. Como se o cora??o tivesse aprendido a ver além do véu das aparências e, ao fazê-lo, descobrisse que tudo o que vive está condenado à transitoriedade.
Há uma estranha do?ura nesse sofrimento. Ele n?o clama por socorro, nem deseja ser extinto. Antes, quer ser compreendido. ? como se a alma, consciente de sua própria fragilidade, recusasse a superficialidade do consolo fácil. A melancolia torna-se ent?o uma forma de fidelidade a si mesmo, uma recusa silenciosa a trair a profundidade do sentir.
Sinto que, nesse estado, o tempo perde seu curso habitual. As horas deixam de avan?ar e passam a pesar. Cada instante carrega uma densidade que oprime e, ao mesmo tempo, enobrece. Há algo de sagrado nessa demora, como se a existência exigisse contempla??o antes de qualquer movimento. N?o se trata de inércia, mas de um recolhimento que prepara o espírito para suportar o mundo com mais verdade.
E assim permane?o, n?o por escolha deliberada, mas porque minha natureza assim o exige. Há almas que se expandem no ruído, e outras que só florescem no silêncio. A minha pertence a estas últimas. Carrego comigo a consciência d
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