Mikhail D’Amato
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4A neve caía lenta sobre Moscou naquela manh? — grossa, silenciosa, quase piedosa. O som abafado dos passos sobre o ch?o congelado parecia um lamento distante, enquanto o vento cortava o ar com a precis?o de uma l?mina.
Mikhail D’Amato permanecia imóvel diante do caix?o fechado, com as m?os enluvadas segurando a pequena m?o de seu filho de um ano. O menino n?o entendia o significado daquilo, apenas olhava em volta, confuso, balbuciando sons sem forma.
Mikhail, porém, entendia tudo.
Entendia que o amor, a esperan?a e a paz haviam sido enterrados junto com ela.
O rosto dele — impecável, como esculpido em mármore — n?o demonstrava emo??o. Apenas os olhos, de um azul frio e profundo, traíam o que o resto do corpo se recusava a expressar: um vazio devastador.
As pessoas murmuravam seu nome, cumprimentavam com reverências tímidas. Todos sabiam quem ele era. O herdeiro da mais temida linhagem da máfia russa. O homem que nasceu sob o peso da honra e da violência.
Mas ali, diante do túmulo, ele n?o era o mafioso, nem o empresário.
Era apenas um homem que perdera o único motivo que o fazia acreditar que havia algo puro em seu mundo.
Quando o padre encerrou as últimas palavras, Mikhail se inclinou levemente, depositando uma única rosa branca sobre o caix?o.
— "Do svidaniya, moya lyubov..." — murmurou em russo. Adeus, meu amor.
O vento soprou forte, levando com ele o perfume quase imperceptível da flor.
E naquele instante, algo dentro de Mikhail se partiu — silenciosamente, irreversivelmente.
Desde aquele dia, ele fez um voto silencioso: nunca mais se permitiria sentir.
Sentimentos enfraquecem, e fraqueza mata.
Amor, para ele, passou a ser apenas uma lembran?a distante e perigosa — uma emo??o que custara caro demais.
Nos anos seguintes, Mikhail reconstruiu o império que herdara, ampliando seus negócios com a frieza de quem n?o teme o inferno. Tudo o que tocava se tornava seu. Pessoas, contratos, segredos.
Aprendeu que o poder era a única forma
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