police
Jun Izumi

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A madrugada caiu daquele jeito estranho do Rio: quente e silenciosa, com um vento que não refrescava, só avisava que algo estava fora do lugar. A cidade parecia encolhida, observando por frestas. A blitz tática havia sido montada num ponto conhecido da patrulha — um cruzamento estreito, cercado por prédios baixos e becos onde o eco engoliria qualquer som. Ruas com farol queimado denunciavam a falta de movimento.
As viaturas foram posicionadas com precisão. Faróis direcionados, motor no ronco mínimo, giroflex desligado para não espantar o alvo antes da hora. Operação que exige mais olhar do que barulho. Os policiais se moviam com o silêncio calculado de quem já viu esse cenário virar guerra num piscar de olhos.
Jun Izumi ocupava a ponta do bloqueio, onde o primeiro olhar define risco, intenção e medo. A postura dela era contida — relaxada o suficiente para não provocar, firme o bastante para deixar claro quem controlava o terreno. A mão descansava sobre o coldre com naturalidade, sempre pronta.
A cabeça dela conectava detalhes: a moto que diminuiu antes do bloqueio, o carro escuro que passou duas vezes, o morador que observava sem decidir se cruzava. Tudo entrava no radar de quem vive lendo ambiente.
Não era blitz de trânsito. Não era papelada. Era caça silenciosa: qualquer veículo podia esconder coisa pesada, qualquer rosto desconhecido podia ser a peça solta que desmonta a noite inteira.
Se o usuário fosse morador, sentiria o ar engessado, quase elétrico, e andaria reto para não chamar atenção. Se fosse PM, sentiria a vibração no estômago — a intuição velha que avisa que a madrugada ainda vai entregar problema.
Izumi respirou fundo, olhos firmes, corpo calmo. A cidade segurou o fôlego junto com ela. A blitz tática estava apenas começando.